Acordei domingo de manhã na certeza de que iria me divertir com os meus amigos fazendo um dos meus programas favoritos: assistir corridas de automobilismo. Seria a etapa do Rio de Janeiro da Stock Car Brasil. Tudo pronto, ingresso no bolso, baterias das câmeras carregadas, cartaz “Filma Nós” pintado, partimos ao local de encontro. Enfrentamos vários imprevistos, inclusive o de caminhar por cerca de meia hora pro lado errado no meio do mato (eu assumo, minha culpa) chegamos à entrada do Autódromo Nelson Piquet (Jacarepaguá).

  Um pequeno detalhe nos deixava apreensivos: somente eu possuía ingresso. Convictos de que perderíamos uma grana na mão dos cambistas, que por sinal eram muitos e agiam livremente na frente de policiais militares que até riam da forma que os cambistas abordavam suas vítimas. É, vítimas. Depois de pequena negociação conseguimos ingressos pelo valor normal, sem contribuir com o crime organizado. Já dentro do Autódromo nos dirigimos para a área de arquibancadas descobertas apesar de termos pago pela coberta, mas segundo seguranças não poderíamos subir porque estavam reservadas para torcidas organizadas. Um absurdo.

  Ao som do Hino Nacional nos acomodamos no meio da multidão que após muito tempo não via as arquibancadas do Autódromo tão cheias e animadas. Dado o sinal para ligarem os motores, agora só se ouvia um barulho ensurdecedor vindo da pista. Câmera na mão, coração batendo acelerado no ritmo dos giros dos motores, luzes se apagam e começa a corrida. A vibração da torcida era medida de acordo com a quantidade de poeira e peças de carro que voavam logo nas primeiras curvas. Porém na 2ª volta, aconteceu algo que pegou a todos de surpresa.




  As imagens do vídeo causaram pavor tanto no automobilismo brasileiro quanto nos espectadores no autódromo e os que assistiam pela TV. Um filme que vem se repetindo à exaustão naquela que diz ser a principal categoria do país. A Stock Car volta a viver mais um drama em 2011. Não bastasse a morte de Gustavo Sondermann na abertura da temporada da Copa Montana, houve ontem o incêndio no carro nº 25 de Tuka Rocha, da equipe Vogel. Uma imensa cortina de fogo e fumaça entra pela reta principal e a única coisa que se vê é uma porta sendo jogada para o alto e o carro parando no muro da pista. Imediatamente os carros de resgate vão ao encontro do carro em chamas, mas o que espanta a todos é a multidão que corre pro lado oposto indicando que algo está na pista. As chamas foram tão fortes que o piloto teve que arrancar às pressas o volante, a porta e deixar de lado os procedimentos de segurança ao se jogar do carro em movimento para salvar a sua vida. O acontecimento natural seria que a grande quantidade de fumaça negra que se alojava na cabine do piloto acabasse intoxicando Tuka e o mesmo desmaiasse. Graças a Deus, o piloto passou a noite em observação em um hospital particular próximo ao Autódromo com apenas uma lesão no pulmão esquerdo por causa da inalação da fumaça e alguns arranhões no corpo devido ao pulo no asfalto.

  Quando saltou do carro em movimento Tuka mostrou muita coragem, porque poderia até ser atropelado por um carro vindo de trás. Muitos criticaram sua atitude ao dizer que era desnecessário pular na pista já que os bombeiros e o carro de resgate chegariam logo em seguida. Da arquibancada via a aflição das pessoas em volta ao ajudar o piloto que ali no chão enchia o peito de ar para tentar limpar a fumaça tóxica que havia inalado e a preocupação se ele havia se queimado. Em momento algum eu vi o resgate dos bombeiros que deveriam estar ali. Aliás, pasmem, os primeiros socorros foram dados pelo pai do piloto Átila Abreu, que assistia a corrida do centro de comando da equipe do filho logo ali ao lado. Somente depois de quase 2 minutos é que o médico responsável, o Dr. Dino Altmann, médico da categoria e também médico do GP Brasil de F-1 chegou ao local. A remoção do piloto demorou muito tempo, tendo em vista, que não houve nenhuma batida para ter a preocupação com algum tipo de fratura, era apenas a questão da fumaça e não havia queimaduras aparentes. Erro gravíssimo.

  Algo de muito errado aconteceu para que o fogo tomasse tal proporção. Os carros possuem um sistema de extinção de incêndio que se imaginava ser bem eficaz. Errado. Há de se abrir uma séria investigação, tanto da CBA, da Vogel, e também da fabricante dos carros, a JL. Apesar de que se for levar em consideração que a Confederação Brasileira de Automobilismo não se manifesta e nem toma atitude nenhuma sobre nada, é bem capaz que essa investigação não resulte nas melhorias necessárias de segurança da categoria e os pilotos continuem correndo riscos de vida.

Segundo informações de alguns jornalistas e especialistas, em 2009, quando o projeto do carro foi lançado, houve um incêndio justamente no carro de Cacá Bueno. Logo no de quem? No carro de Cacá, um dos poucos pilotos com coragem e desprendimento para falar o que pensa ( até porque o pai dele é grande influência no meio automobilístico e na mídia). Digam o que quiserem do Cacá, mas nunca se pode criticá-lo por omissão. E ele não está errado em protestar, já que é  tricampeão da categoria e um dos melhores pilotos na pista. Agora só resta saber se os pilotos vão se unir, deixar as briguinhas pra dentro da pista, e exigir da Vicar (organizadora da categoria) algum tipo de atitude.